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Um sonho por água abaixo

"Sou filho de Palmares. É aqui que tenho que ficar"

Por Augusto Cataldi

Há 25 anos, o palmarense Abilênio Sukar deixava a cidade. Alçar novos vôos, conhecer coisas novas, fazer a vida. São Paulo era seu destino. Após seu longo tempo fora, com mais bagagem, conhecimento e vontade de investir, o empreendedor volta à sua cidade com desejo de montar seu próprio negócio, formar patrimônio. Em 2010, tudo aquilo que montou se foi por água abaixo.

 

Abilênio é dono de uma fábrica de cachaça artesanal. "Para meu negócio funcionar, tem equipamento que é feito por uma pessoa só, artesanalmente mesmo, isso torna ele caro", ressaltou o empresário. Além disso, o seu produto tem um preço diferenciado no mercado. Enquanto aguardentes comuns custam em torno de R$ 43 reais a caixa, sua menor garrafa custa R$ 45. "Tudo isso foi levado pela chuva. Ainda vendo algumas que sobraram no meu estoque, mas o meu barril foi todo levado", completou.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Na data da tragédia, o empresário estava fora do estado fechando parcerias. "Quando descobri que  tinha dado aquela enchente, voltei correndo. Minha fábrica ficava perto do rio. Logo foi tomada pela água", contou. Ainda ressaltou que funcionários seus ficaram ilhados na sua fábrica durante aproximadamente 3 dias. "A gente criava umas galinhas la na fábrica. Eles se alimentaram daquela carne crua das aves até o resgate chegar", afirmou. 

 

Há mais de dois anos, a fábrica de Abilênio está sem produzir. "Hoje eu vendo, além do meu estoque, coisas para viver. Terreno, carro, o que for", completou. O empresário contou que pretende voltar a produzir ainda no ano de 2015. "Agora migrei para uma parte mais alta. Também diminuí a capacidade de produção, estou com equipamentos menores. Uma coisa eu digo, se a água chegar nesse lugar onde estou agora, ela vai chegar em Recife e Palmares se acaba", disse.

 

Parecia Bagdá

 

2010 foi um ano atípico para o povo de Palmares. Para Rômulo Campos Lara, dono de um restaurante na cidade, o cenário era de guerra. "Eu vinha de São Paulo já certo para trabalhar aqui. Na época, meu negócio era cana de açúcar. Já tinha firmado negócio, então descobri o que houve. Vim em agosto e o cenário era devastador", ressaltou. 

 

"Nenhum governo está pronto para uma catástrofe daquela", afirmou Rômulo. Segundo ele, em 1 ano e meio a cidade se reestruturou. A vida começou, aos poucos, a voltar ao normal, mas ainda com a incerteza e o medo de que o nível do rio subisse novamente. "Hoje eu sinto as pessoas mais seguras, principalmente depois da construção das barragens", completou. 

 

Rômulo reitera que a cheia reafirmou a sua fé no ser humano. "Eu vi muita gente se ajudando. O povo daqui é muito resiliente. A cidade dos Palmares tem sorte de ter a população que tem", completou.

 

"Eu tenho 49 anos e já houve cheia aqui, mas nunca para dar 5 ou 6 metros de altura dentro de um galpão"

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